Arquilau de Castro Melo revisita bastidores da Justiça Eleitoral no 12º episódio do “Além do Voto”

Ex-presidente do TRE-AC relembra crises, desinformação, criação do Centro de Memória e desafios eleitorais na Amazônia

Arquilau de Castro Melo revisita bastidores da Justiça Eleitoral no 12º episódio do “Além do Voto”
Ex-presidente do TRE-AC relembra crises, desinformação, criação do Centro de Memória e desafios eleitorais na Amazônia

O Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC) lançou o 12º episódio do podcast Além do Voto, que integra as comemorações pelos 50 anos da instituição. O convidado foi o desembargador aposentado Arquilau de Castro Melo, magistrado que presidiu o TRE em dois biênios (2000–2001 e 2009–2011) e cuja trajetória marcou profundamente a história da Justiça Eleitoral acreana.

Ao longo do episódio, o desembargador compartilhou lembranças vivas de sua atuação, episódios curiosos, desafios enfrentados e valores que moldaram sua visão de magistratura e de serviço público. Com leveza, precisão histórica e senso crítico apurado, o desembargador Arquilau ofereceu ao público um mergulho na memória institucional do TRE-AC.

Crises eleitorais, desinformação e decisões rápidas

Um dos momentos mais marcantes do relato foi a lembrança de uma denúncia inusitada recebida às vésperas da eleição municipal de 2000. Segundo um suposto dossiê, “americanos invadiriam o TRE à meia-noite para alterar o programa das urnas”. O desembargador narrou o episódio com humor e seriedade, destacando como enfrentou a situação.

“Eu não conhecia nem boliviano na cidade, imagine americano. Mas chamei a imprensa, convoquei a área de informática e ainda pedi a vinda de um diretor do TSE para explicar que a urna não permite qualquer manipulação. Se mexer nela, ela sequer liga”, relembrou.

Ele também rememorou o episódio de outra crise, quando um técnico de empresa terceirizada entrou no Tribunal usando uma camisa de partido político, gerando tumulto.

“A imprensa filmando, pessoas desconfiadas, e eu trancado no gabinete pensando: ‘Como explicar isso?’. Pedi imediatamente apoio da Polícia Federal para esclarecer os fatos. Era um tempo tenso, de sensibilidade extrema”, disse.

Construção da memória institucional

Apaixonado pela história do Judiciário, o desembargador Arquilau foi responsável por iniciar o primeiro espaço de memória do TRE-AC, ainda em sua segunda gestão. Com poucos recursos, mas muita convicção, estruturou uma sala que viria a se tornar o embrião do atual Centro de Memória do Tribunal. “Museu não é lugar de coisa velha. É cultura. É identidade. Se nós não contarmos nossa história, outros vão contar — e, muitas vezes, de forma distorcida”, disse.

Ele relembrou que, na época, enfrentou resistência e até ironias, mas persistiu. “Eu dizia: se não formos nós, ninguém vai fazer. O que vale é contaminar positivamente as pessoas. O museu hoje está aí porque muita gente acreditou junto”, afirmou.

Referendo do fuso horário: TRE fazendo as vezes de TSE

Em sua segunda gestão, Arquilau coordenou um dos momentos mais emblemáticos da história recente do Acre: o referendo sobre o fuso horário, realizado junto com as eleições de 2010.

O desembargador aposentado explicou que foi preciso elaborar resoluções, estruturar debates, organizar horários de propaganda e orientar os eleitores — tudo simultaneamente ao processo eleitoral habitual. “Foi um desafio gigantesco. Muitos diziam que o eleitor iria esquecer da segunda votação. Não esqueceu. Entrou na cabine, votou para os cargos e, depois, respondeu ao referendo de forma consciente”, contou.

Eleições na Amazônia e o aprendizado na ponta

Ao revisitar seus momentos na Justiça Eleitoral, o desembargador destacou que as eleições no Acre cumprem também um papel pedagógico para magistrados. “Ir a Seringais, viajar dias de barco, empurrar voadeira nos atoleiros... isso educa o juiz. Ele volta sabendo a realidade do seu povo”, garantiu.

Do voto em papel à urna eletrônica

Com olhar crítico e experiência acumulada desde os tempos das cédulas de papel, o desembargador Arquilau fez questão de lembrar como as urnas eletrônicas revolucionaram o processo. “No voto escrito, a apuração durava 15 a 20 dias. E vinha briga, contestação, adivinhação. Hoje, em poucas horas temos o resultado. É segurança, é rapidez, é democracia funcionando”, afirmou.

Legado, cultura institucional e responsabilidade histórica

Apesar de resistir à palavra “legado”, o desembargador reconhece que seu maior impacto na Justiça Eleitoral foi o compromisso com a cultura institucional e a formação das pessoas. “Não é prédio nem obra. O que permanece é o que se grava na cabeça das pessoas. Memória é o que forma civilização”, garantiu.

Ao final, deixou uma mensagem aos servidores e magistrados. “Sejam curiosos. Vão atrás. Sirvam bem o cidadão — ele é o nosso patrão. E preservem a memória. Ela diz de onde viemos e para onde vamos”, enfatizou.

Acesse ao 12º episódio do Podcast Além do Voto: https://www.youtube.com/watch?v=DODEtDFB3kE

 

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